cansar de dores o papel
Cansar de dores o papel amarrotado de ninharias e mediocridades. Não fosse a crise e o desgoverno,
(e enfim, para poupar energias e sintetizando)
não fosse o planeta plantado de gumes traiçoeiros com que a humanidade semeia o seu próprio futuro, talvez pudesse eu renascer num sorriso feliz a vender banha da cobra nas palavras e papeis densamente iluminados.
Ou que o verão não desdenhasse na nossa cara o escarninho destino a que nos propomos na negligência: cada dia é angular e decisivo se não forem tomadas em conjunto todas as medidas preventivas e calculadas.
Pois assim de que nos servem as estações do ano se nenhuma agora cumpre o seu compromisso, com os seus humores climatéricos alterados? Que sentido tem desejar bom fim de semana se os patrões, alinhados como tropas de faca e queijo na mão, não o reconhecem? O que são piqueniques no campo se o círculo é de betão? Que nos vale mesmo saber que linhas imaginárias dividem o planeta em lugares de maior ou menor qualidade que vêm a ser os trópicos e os meridianos? Construímos com regozijo a aldeia global e agora pendemos o queixo e os olhos num impressionante esgar de apreensão. Como quem vai para a guerra com o nó na garganta de saber o quanto está já derrotado e condenado.
Cansar de dores o papel ou acumular cerveja no sangue num gesto de indiferença, a fazer de conta que as contas do mundo não são nossas, alguém mais capaz fará tudo por nós. Não fosse a crise e o desgoverno,
(e enfim, para poupar energias e sintetizando)
não fosse o planeta esfaqueado pelo seu próprio punhal traiçoeiro, e toda essa idiotice conspirativa que os humanos ergueram uns contra os outros, talvez pudéssemos ver o futebol e as telenovelas na tv sem nos importamos um corno para com o próximo.
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