sei o que és para mim


Happy, por Alexander Kharlamov em 1000 imagens


tu inauguras o mundo
Governo
(de Inauguração do Mundo em Propaganda Sentimental, 2009)


Tu és quando a manhã sobe na polpa doce dos teus dedos a descobrir-me sob a saliva enquanto o frio desenha cristais de geada sobre os telhados e as pedras da rua. Boceja a paisagem saída da madrugada e espreguiça-se o teu corpo como gato atiçando o meu em curvaturas de lençóis e aconchegos ronronantes do despertar.

Na fuligem dos pesadelos antigos as ideias murmuravam de reverso e tomavam a iniciativa das minhas vontades contraditórias. Mas há muito que a azálea murchou num oco de decomposição equivocando desilusões passadas, e por isso contigo o passado apenas histórias de fadas cruéis, gnomos insensatos e demónios malogrados. Por isso a azálea morta é um fim não cíclico, a irreversível síntese de todos os amanhãs novos a mim prometidos.

Sob a maciez carnuda dos teus seios palpita-te o coração com o calor necessário para que me aqueçam os membros, o tronco, os olhos embalados numa embriaguez calma de abraço cúmplice, e sorrisos comprometidos com o fruto da primavera desejada entre nós. E que cresce, levando consigo o nosso emotivo testemunho.

És tu ao fundo do ventre numa dádiva, de tudo o que é o mundo que se abre em rosa flor, sem a necessidade das estações do ano, a beijar-me de fome toda a génese do que sou.

E assim, meu amor, eu sei bem o que és para mim.

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